Embora seja comumente associada à floresta amazônica, a arara-canindé (Ara ararauna) é presença constante nos céus do Cerrado. Na região Centro-Oeste, por exemplo, frequentemente é possível avistá-las.
Segundo levantamento do Projeto Araras de Goiânia, do Laboratório de Etnobiologia e Biodiversidade da Universidade Federal de Goiás, de junho a agosto de 2021, houve mais de 480 registros da espécie circulando por Goiânia.
Contudo, apesar de sua frequente observação no Cerrado brasileiro e da categorização em grau de ameaça pouco preocupante, a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) alerta que a população da espécie está em declínio e que, ao longo de três gerações (38 anos), o seu habitat adequado pode perder cerca de 25%, um cenário que requer atenção.
Características e importância ambiental
A arara-canindé possui cerca de 80 centímetros de comprimento, pesa em média entre 990 gramas e um quilo e trezentos gramas. Possui plumas predominantemente nas cores da bandeira do Brasil: azul no dorso e amarelo-dourado na barriga, resultando no nome popular arara-de-barriga-amarela.
Uma vez que formam casal, não se separam mais e, a cada dois anos, em ninhos feitos em buracos de troncos de árvores, colocam de um a três ovos, que ficam em período de incubação por aproximadamente 28 dias. Neste período, o macho alimenta a fêmea e protege o ninho de invasores e predadores, como os tucanos, animais que podem comer os ovos.
Os filhotes das araras-canindé nascem sem plumas e ficam no ninho até a 13ª semana, onde são alimentados pelos pais com frutas e sementes regurgitadas. Após esta fase, permanecem com eles por até um ano, mas sua maturidade sexual somente é atingida depois de três ou quatro anos.
Geralmente, o animal voa em pares ou grupos de três indivíduos, mas também podem ser vistos em bandos maiores, de 30 indivíduos, em média. É comum ser avistado em copa de florestas de galeria, várzeas com palmeiras, como o buriti, além de interiores de florestas e, atualmente, no ambiente urbano. Não à toa é conhecido como “araras urbanas”.
Assim como outras espécies de araras, a arara-canindé pode ser predada no solo por mamíferos carnívoros quando são jovens e estão aprendendo a voar; ou por répteis aquáticos, como sucuris, enquanto bebem água. Além disso, também podem ser predadas por aves de rapina, como a harpia.
Podendo viver em diferentes habitats, desde florestas tropicais densas a matas ciliares e campos abertos, a arara-canindé, independentemente de onde esteja, possui um papel fundamental para o equilíbrio ecológico devido aos seus hábitos alimentares e comportamentais. Por ser uma ave frugívora e consumir variadas frutas, a espécie é ótima dispersora de sementes, as quais possuem maior potencial de germinação, o que colabora com a regeneração e manutenção das florestas.
No Legado Verdes do Cerrado, Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável de 32 mil hectares, de propriedade da CBA – Companhia Brasileira de Alumínio, a arara-canindé pode ser observada em diferentes fitofisionomias do bioma presentes no território, seja sobrevoando ou sob copas de árvores, sobretudo de buritizeiros. E além de encantar a todos por sua beleza e magnificência, colabora com a resiliência vegetal da área.
Observar uma arara-canindé voando pelos céus é mais do que uma simples maravilha da natureza, é uma garantia da vitalidade e saúde desse ambiente, lembrando-nos da importância da proteção e conservação. Afinal, quando um ecossistema está em equilíbrio, nossa vida está resguardada. É uma relação mútua e dissociável.
* Thayná Agnelli é jornalista formada pela FAPCOM, tem experiência em gestão de redes sociais e é responsável pela criação de conteúdos para o Legado Verdes do Cerrado.