Mais do que simples buracos escuros, as cavernas são formações geológicas que desempenham papéis cruciais no equilíbrio ecológico e na conservação dos ecossistemas.
Segundo o Serviço Geológico do Brasil, por definição, cavernas (que vem do latim cavus) referem-se a qualquer cavidade natural com tamanhos variados que possibilitam o acesso humano. Além disso, devido à topografia, comprimento e forma, uma caverna pode ser classificada como:
- Abrigo: cavidade de pequeno comprimento e grande abertura;
- Toca: caverna com única entrada em grande abertura e desenvolvimento horizontal menor que 20 metros;
- Gruta: caverna também predominantemente horizontal, mas com mais de 20 metros de comprimento. Geralmente tem mais de uma entrada, mas nem sempre é possível atravessá-la de um lado ao outro;
- Fosso: caverna predominantemente vertical, com grande abertura e desnível inferior a 10 metros;
- Abismo: caverna também predominantemente vertical, mas com desnível maior que 10 metros.
Formação das cavernas
As cavernas se formam principalmente em rochas solúveis, isto é, aquelas que podem ser dissolvidas por água ou outros componentes ácidos quando entram em contato com os minerais da rocha, a qual faz ela se desintegrar. Esse processo de formação é chamado de Karstificação.
Outra curiosidade é que a água presente em uma caverna também é a responsável pela formação de estalactites e estalagmites, que podem existir no teto e no chão da caverna. Eles são originados a partir da evaporação da água que contém minerais dissolvidos, geralmente o carbonato de cálcio, que com o tempo se acumulam. E a diferença entre eles é que as estalactites pendem do teto, crescendo para baixo e as estalagmites, crescem do chão para cima.
Cavernas do Cerrado
Embora cavernas sejam encontradas em todo o mundo, muitas ainda são pouco estudadas, catalogadas e mapeadas. Na América Latina, por exemplo, segundo a Sociedade Brasileira de Espeleologia, o Brasil é o pioneiro no cadastro e gerenciamento de cavernas. E conforme dados do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o país já registrou 25.290 cavernas, sendo que a primeira descrição científica sobre cavernas brasileiras aconteceu em 1835 pelo dinamarquês Peter Wilhelm Lund.
Especificamente na região Centro-Oeste existem catalogadas 2.180 cavernas, 1.136 somente do Estado de Goiás. Do total, 7 estão na área do Legado Verdes do Cerrado, o que representa 6,5% das cavernas presentes na cidade de Niquelândia, município onde o Legado está localizado.
As descobertas das cavernas na primeira Reserva Privada de Desenvolvimento Sustentável de Goiás e do bioma Cerrado no Brasil ocorreu durante a pesquisa “Qualidade dos Solos das Regiões Cársticas”, realizada no território em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), e eleva a importância do Legado a nível nacional, uma vez que o local passou a ser considerado uma Área Prioritária para Conservação de Cavernas.
A importância das cavernas para o meio ambiente
A relação entre seres humanos e cavernas remonta aos primórdios da humanidade. A expressão “homem das cavernas” ilustra essa ligação, onde as cavernas serviam como abrigo, proteção e local para registros, como os desenhos rupestres.
Para a biodiversidade, essa conexão é igualmente significativa. Muitas cavernas são refúgio para uma diversidade de vida, como morcegos, insetos e micro-organismos, que se adaptam às condições únicas e muitas vezes extremas daquele ambiente. Desta forma, as cavernas são fundamentais para a conservação de várias espécies.
Outras contribuições das cavernas se referem à hidrologia e o armazenamento de carbono. Elas atuam como reservatórios naturais de água, além de garantir a disponibilidade hídrica para diferentes ecossistemas. As estalactites e estalagmites podem atuar como depósitos de carbono, por serem capazes de absorverem o CO2 do ar, mesmo que em menor escala quando comparado a capacidade do solo e florestas neste processo.
As cavernas também são indicadores ambientais. A presença de certas espécies pode indicar a saúde do ecossistema, e mudanças na diversidade biológica ou no comportamento dos animais ali presentes ajudam sinalizar desequilíbrios ambientais. Além disso, ao estudar as formações e habitantes das cavernas, espeleólogos obtêm informações sobre alterações climáticas ao longo dos séculos, com sedimentos revelando dados sobre temperatura, umidade e condições ambientais passadas.
As cavernas são verdadeiros tesouros naturais que vão além simples formações geológicas. Elas são fonte de conhecimento e biodiversidade. Ao valorizá-las, estamos cuidando de um patrimônio natural e contribuindo para a conservação e saúde do nosso planeta.
* Thayná Agnelli é jornalista formada pela FAPCOM, tem experiência em gestão de redes sociais e é responsável pela criação de conteúdos para o Legado Verdes do Cerrado.